“Quando criaturas sobrenaturais começam a mandar pessoas para o inferno após condenações brutais, surge uma seita religiosa que tem a justiça divina como maior preceito”, diz a sinopse oficial da nova trama sul-coreana da Netflix “Profecia do Inferno” e ela convence.
E caso você ainda esteja na dúvida, basta olhar o nome do roteirista e diretor, que o seu programa para sábado à noite já está preparado. O homem por traz da série é ninguém mais, ninguém menos que Yeon Sang-ho, que nos presenteou com o perfeito “Invasão Zumbi”.
E foi assim que eu me preparei para os seis episódios, que minha maravilhosa experiência com títulos sul-coreanos me deixou apreensiva porque pensei: “será rápido demais! ”. Para minha surpresa, não foi!
E vamos ao que interessa, a base da história é bacana: fanatismo religioso e o controle pelo medo que a religião exerce nas pessoas, intolerância e perseguição religiosa, o poder que a internet tem quando o interlocutor que a usa se beneficia do fato de que pessoas acreditam em tudo que vê e sabe como usar e incitar o caos e, principalmente, parte do fato de que a sociedade é hipócrita.
Neste ponto, você deve ter pensado “uau! ”, o problema é que toda a ideia está aí, mas é fato que Sang-ho não soube executa-la, pelo menos não para mim.
O primeiro episódio é impactante, três criaturas horrendas – que você entenderá se pegar o nome em inglês da série “Hellbound” (vamos traduzir aqui como Cães do Inferno – Lembra de Supernatural?) – perseguem um homem e de forma extremamente violenta o arrebatam para o inferno. Me empolguei!
O segundo episódio você conhece uma espécie de reverendo, um homem que viu as criaturas de perto e dá início a uma seita, que tem como objetivo alertar as pessoas para o pecado.
Neste meio tempo, um influencer fantasiado e banhado em tinta fluorescente aparece na tela gritando palavras de ordem, totalmente fora de sim (parece alguém que a gente conhece) e foi neste momento que pensei: merda!
E é exatamente neste ponto que as coisas começam a desandar, toda a base de ideias foi jogada no roteiro sem muito nexo, sem serem muito bem explicadas (não que a história seja difícil de entender), porém a impressão que dá é de que Sang-ho perdeu algumas peças do lego, mas quis montar a Millennium Falcon assim mesmo.
E foi isso que me deixou extremamente constrangida com a série, principalmente, quando o ponto central é questionar o que é o pecado, como as pessoas estão sendo escolhidas e quem está por trás de tudo aquilo.
A cada episódio eu esperava que pelo menos alguma das perguntas fossem respondidas, com alguns porquês esclarecidos ou uma pista leve do que poderia ser, mas, não. A trama se alonga de forma cansativa, cenas de violência são jogadas lá para causar e no fim você não sabe mais o que está sendo discutido.
E é isso que faz com a experiência seja ruim para mediana, ideias tão interessantes e atuais desperdiçadas quando o rapaz simplesmente não soube juntar as peças do quebra cabeça, lembra daquele meme do cavalo falando em temporadas? A primeira de Profecia do Inferno é aquilo.
Enfim, a série é ruim e abaixo do que esperamos quando escolhemos títulos sul-coreanos, então se levarmos em consideração Round 6 (ouça também nosso podcast de Round 6) e My Name, Profecia do Inferno é tão abaixo da qualidade que parece que estamos assistindo uma obra japonesa.
E antes que alguém diga que a serie não se resolveu nesta primeira para que as perguntas sejam respondidas em uma possível segunda temporada, deve estar louco! Nada ali foi respondido, nada ali foi mostrado, nada!!! A série se perde no abismo que ela mesmo criou e talvez, apenas talvez, o título em português faça jus ao que encontramos em tela.
Por Ana Paula Tinoco – Fotos: divulgação