Nunca vou esquecer o dia que passei na porta do cinema e lá estava escrito: “Esqueça Seven: quanto sangue você daria para não morrer? ”. A frase me chamou atenção por colocar em cheque um dos melhores filmes de suspense já escritos e o meu filme de suspense preferido e foi assim que entrei no universo de Jogos Mortais.
Mas, não estou aqui para falar sobre o melhor filme do David Fincher e nem da franquia de Jigsaw, o jogo da vez é sul coreano e produzido pela Netflix, isso mesmo, estou aqui para falar de Round 6, também chamada de Squid Game, e estou há dois dias tentando encontrar palavras para descrever o que senti durante e depois de terminar os nove episódios dessa obra de arte.
A série que começa despretensiosa já nos mostra que não está para brincadeira quando o desolado e atrapalhado protagonista Seong Gi-Hun (Lee Jung-jae) tem seu encontro com um homem misterioso (Gong Yoo) no metro. Entre tapas e revoltas ele é selecionado e aceita participar de um jogo.
Até aqui tudo bem, afinal ele está quebrado, não tem perspectiva de vida nenhuma e se não bastasse, você furta a própria mãe. Diferente dos jogos de azar (que ele tanto ama), ele não tem nada a perder. E assim como a série, os jogos começam de forma despretensiosa, usando brincadeira de criança. E o ponto forte aqui é: preste atenção nas regras do jogo, porque ser eliminado não quer dizer que você irá voltar para casa.
E assim como em Jogos Mortais (pelo menos nos três primeiros), Round 6 usa a violência em seu benefício, extremamente gráfica, ela joga com o gosto que temos por ver sangue e explora o sadismo humano de forma magistral e em câmera lenta, somos nós, telespectadores, os convidados VIP.
A trama tem, também, uma pegada social que mostra que o ser humano quando se trata de sobrevivência passa por cima de tudo e de todos, a personificação da famosa frase: “Eles que lutem! ”. Round 6 não causa estranheza ou desconforto porque apesar de situações bizarras você consegue se colocar no lugar de cada um ali e se imaginar fazendo o mesmo, afinal a outra vida vale mais que a sua?
Destaque para Park Hae Soo (Cho Sang-Woo), o ator está magnifico e são dele as cenas mais marcantes dos oito episódios e ele entrega tudo. Posso dizer com toda certeza que ele é, ali em cena, o mais humano de todos. Inclusive, o elenco é inteiro bem escolhido, personagens se encaixam lindamente.
Fato é que jogo a jogo, Hwang Dong-Hyuk, diretor e criador da série, soube explorar o individualismo e falta de empatia pela vida do próximo de forma tão perfeita que neste momento James Wan (Jogos Mortais) deve estar fazendo referência. E aqui você pode se perguntar: “Qual a motivação da pessoa para realizar jogos tão sádicos?”, se eu fosse milionária iria querer ver pobre se matando também.
A série mantém o ritmo e capitulo por capitulo ela entrega entretenimento puro, lembro que quando terminei a única coisa que conseguia pensar é: “sul-coreanos não decepcionam quando o propósito é entreter”. E uma frase já bastante usada por mim aqui, Round 6 não peca nem por excesso e muito menos por omissão, ela é simplesmente perfeita e até mesmo as histórias em aberto para uma próxima temporada são entregues de forma redonda.
E sem me alongar mais, os personagens são fantásticos, apesar de usar a receita comum do herói que se constrói de acordo com a história, do vilão que todos desprezam, da mocinha com história de vida triste e do certinho que no fundo não é tão certinho assim, a série inova porque é isso que os sul-coreanos fazem, eles pegam uma formula conhecida e a transforma de uma maneira já mais vista. Beijo para os zumbis!
E uma curiosidade? Hwang teve a ideia da série porque ele estava quebrado, seria ele Seong Gi-Hun? Se sim, ele é o vencedor da vida real porque Round 6 é a série sul-coreana mais assistida da Netflix e acredite não é à toa. E se você ainda não viu, veja! E que comecem os jogos!
Por Ana Paula Tinoco